Sunday, November 30, 2003

55,000 quê?

55,000 portugueses já subscreveram um abaixo assinado, que decorre até 5 de Dezembro, sobre a importância de se inscrever uma referência ao Cristianismo no preâmbulo da nova Constituição Europeia. O texto da petição, que se encontra na web, diz o seguinte:

Nós, abaixo-assinados, pedimos que, no futuro Tratado da Europa reunificada, seja inscrita uma referência explícita ao legado Cristão como fonte de valores reconhecidos e partilhados na União Europeia de hoje e de amanhã: respeito da dignidade humana e do direito, solidariedade, liberdade e responsabilidade. Nós pedimos também a garantia da liberdade de religião, do respeito dos crentes e de não-crentes e do diálogo institucional com as Igrejas.

É por causa desta e de outras paroladas deste calibre que não vamos a lugar nenhum. Mas isto é para quê? "Fonte de valores reconhecidos e partilhados na União Europeia de hoje e de amanhã"?! Para impedir a entrada da Turquia?!

Não lhes chega que a nova constituição se inspire nas heranças culturais, religiosas e humanistas da Europa, cujos valores, ainda presentes no seu património, enraizaram na vida da sociedade o papel central da pessoa humana e dos seus direitos invioláveis e inalienáveis?!

No preâmbulo da Constituição da República Portuguesa diz-se assim (e diz-se bem, no meu entender):

A 25 de Abril de 1974, o Movimento das Forças Armadas, coroando a longa resistência do povo português e interpretando os seus sentimentos profundos, derrubou o regime fascista.

Libertar Portugal da ditadura, da opressão e do colonialismo representou uma transformação revolucionária e o início de uma viragem histórica da sociedade portuguesa.

A Revolução restituiu aos Portugueses os direitos e liberdades fundamentais. No exercício destes direitos e liberdades, os legítimos representantes do povo reúnem-se para elaborar uma Constituição que corresponde às aspirações do país.


Ora se estão (aparentemente, pois não há petições) contentes com a nossa Constituição, porque se lembraram agora de chatear a outra? Não encontraram mais nada com que embirrar?

Pressuponho então, que estes 55,000 portugueses estão contentes com o novo sistema de maioria qualificada, da existência de comissários sem voto e da redução do direito de veto! É triste ver que há no meu país 55,000 caramelos mais solidários com um polaco do que com Portugal e os Portugueses.

Era alguma excursão?

Sete agentes do Centro Nacional de Inteligencia (CNI, serviços secretos espanhóis), morreram hoje num ataque perto de Bagdad. Um oitavo está gravemente ferido.

Mas como é que isto aconteceu?! Um agente secreto não é por definição "secreto"? Mas agora viajam todos juntos para rachar a conta da gasosa?! Será que, por óbvio descuido, iam com o uniforme, os famosos bonés de basebal a dizer CNI, óculos escuros e gabardina? Ou perderam-se e andaram a pedir direcções em Castelhano?

Outra explicação é avançada por David Bowden, da Sky News:
"it was a very busy road but the white vehicles of the convoy would have stood out and been easy targets."

Olha Aznar, deixa-te de merdas, e manda lá os teus moços de volta para casa. É que, para andarem lá em excursões a arriscar o pêlo não vale a pena. Deixo-te aqui as palavras de um poeta contemporâneo nosso (que não deves conhecer, pois se nem sequer conheces os teus), que relata um problemazeco que tivemos, há uns anos, e que tem, talvez, algumas parecenças com o teu.


"Os Demónios de Alcácer Quibir"

O D. Sebastião foi para Alcácer-Quibir
de lança na mão a investir a investir
com o cavalo atulhado de livros de história
e guitarras de fado para cantar vitória

O D. Sebastião já tinha hipotecado
toda a nação por dez reis de mel coado
para comprar soldados lanças armaduras
para comprar o "V" das vitórias futuras

O D. Sebastião era um belo pedante
foi mandar vir para uma terra distante
pôs-se a discursar: isto aqui é só meu
vamos lá trabalhar que quem manda sou eu

Mas o mouro é que conhecia o deserto
de trás para diante e de longe e de perto
o mouro é que sabia que o deserto queima e abrasa
o mouro é que jogava em casa

E o D. Sebastião levou tantas na pinha
que ao voltar cá (aí) encontrou a vizinha
espanhola sentada na cama deitada no trono
e o país mudado de dono

E o D. Sebastião acabou na moirama
um bebé chorão sem regaço nem mama
a beber a contar tim por tim tim
a explicar a morrer sim mas devagar

E apanhou tal dose do tal nevoeiro
que a tuberculose o mandou para o galheiro
fez-se um funeral com princesas e reis
e etcetera e tal, Viva Portugal


Sérgio Godinho


Não te esqueças Aznar, que o "Mouro joga em casa", e que o Zapatero está mortinho por se sentar no teu trono.

Envolve meninos?

O advogado de Carlos Cruz (CC), Ricardo Sá Fernandes (RSF, ou o Resposta sem Franquia), foi interceptado pela comunicação social à saída do Instituto de Medicina Legal, depois do exame pericial feito ao seu cliente. Foi um monumental momento televisivo, transmitido pela SIC Notícias:

Repórter - Porque se estavam a rir lá dentro há bocado?
RSF - Ele [CC] contou uma anedota [risos].
Repórter - Qual é a anedota?
RSF - Não posso dizer [mais risos]!
Repórter - Porquê?
RSF - Porque é picante [ainda mais risos, agora mais alarves]!

Que um suspeito de pedofilia conte anedotas de cariz sexual ao seu advogado, ainda vá, mas que o seu advogado venha a público revelar o teor dessas "piadas" é estúpido e é de mau gosto.

A mim, não me dá vontade nenhuma de rir.

Saturday, November 15, 2003

Carlos Raleiras

O homem é raptado hoje no Iraque, e o que é que a comunicação portuguesa faz? Telefona-lhe! "Olá, estás bom? Tudo bem? Então? Como é ser raptado?". À Lusa, Carlos Raleiras disse o seguinte:
”Estou raptado, a situação é muito complicada, não posso falar, agora estou a falar com a minha rádio. Vou desligar”

Entretanto, o telemóvel tem pouca bateria, necessária para comunicar com pessoas que são realmente importantes para solucionar este problema.

Força Carlos.

Friday, November 14, 2003

O Jardim da Celeste

Celeste Cardona é que percebe disto: Não, não e não! Porque não! Salas de chuto não!

E também porque "68 por cento dos reclusos admitem que já tomavam drogas antes de ser presos e que, destes, entre 20 a 30 por cento reconhecem que diminuíram o consumo depois de estarem presos, nomeadamente por via injectável." Ora, o que Celeste não compreende do seu jardim, é que 70 a 80 por cento dos 68 por cento, acrescentados de outros tantos por cento que começam a consumir na cadeia, dá muitos por cento de reclusos, aliás, dá bem mais de metade! E que metade é muita gente, gente que merece ser melhor tratada.

O mínimo de tempo de reflexão, que eu esperaria de uma ministra da Justiça, perante uma proposta para resolver o grave problema da propagação de doenças infecciosas nos estabelecimentos prisionais, é de exactamente 110 minutos. Um segundo por cada um dos presos, cuja vida à morte entregou.

Rock in Rio - Lisboa

É maravilhoso, acho maravilhoso. É a aplicação da Relatividade ao entretenimento. A contracção do espaço (Rio = Lisboa) e a dilatação do tempo (Guns N'Roses2003 = Guns N'Roses1986), num único evento; o único evento apadrinhado por Pedro Santana Lopes (com óbvia excepção das futuras noitadas de Blackjack).

Einstein irá finalmente ser representado ao mais alto e numeroso nível. Pensa-se que meio milhão de 'mecos assistirão a esta coisa.

Eu tenho mais duas sugestões, estas a nível nacional, para potenciar o Euro: Festival Cannes - Moledo do Minho 2004 e; Brit Awards - Albufeira 2004.


Eh pá, façam algo nosso, original!

Tuesday, November 11, 2003

Um dia em Santa Maria

José Vítor Malheiros escreveu hoje no Público um artigo de opinião sobre um dia que passou nas emergências do hospital do Santa Maria. Sem peias, vou reproduzir aqui o artigo na íntegra. O autor vai concerteza perdoar-me.


Um Dia em Santa Maria
Por JOSÉ VÍTOR MALHEIROS
Terça-feira, 11 de Novembro de 2003

São 11h45 quando entro na Urgência do Hospital de Santa Maria, a acompanhar um familiar que sofreu uma queda. Mandam-nos para uma sala de espera e dizem-me que temos de esperar que nos chamem para ir à triagem. Um quadro branco afixado na parede tem escrito em cima "Tempo de espera". Na coluna da esquerda tem escritos os códigos que representam a gravidade de cada doente ou acidentado: "Vermelho", "Laranja", "Amarelo", "Verde", "Azul". À frente de cada cor, na coluna seguinte, está assinalado o tempo médio de espera. À frente de "Verde" está escrito "35 minutos", todas as outras cores têm um traço à frente. Pergunto o que significa o traço. Quer dizer que não há tempo de espera? Que não se sabe? Dizem-me que quer dizer que não há qualquer espera. Mas a sala de espera está cheia! A empregada no balcão de informações encolhe os ombros e volta-se para um recém-chegado.

As pessoas na sala de espera começam a desfiar as suas queixas para o ar. Uma delas espera há uma hora, outra quase há três. Volto ao balcão de informações e pergunto como se explica a diferença entre o quadro e a realidade. A funcionária finge que não me ouve mas um segurança explica-me que o tempo marcado na tabela é o tempo que leva um doente da triagem até ser visto pelo médico. O tempo que se espera até à triagem não é contabilizado. É excelente para as estatísticas! Tão bom como a maneira de contabilizar as listas de espera de cirurgia - só se contam os casos que se quer, da maneira que se quer, até se chegar a um número confortável.

Às 12h50 um enfermeiro vem actualizar o quadro. Apaga os 35 minutos que estavam na mesma linha que "Verde" e escreve um traço. Digo-lhe que estou à espera há uma hora e cinco minutos e que o seu quadro é uma fraude. Responde-me a mesma coisa que o segurança: o quadro mede o tempo desde a triagem até ao médico. Repito-lhe que o quadro induz os utentes em erro e que não passa de uma fraude. Responde-me que é enfermeiro, que não lhe compete ouvir a minha reclamação, que posso falar às funcionárias no balcão de atendimento.

Às 13h20 chamam o nome do meu familiar. Entramos na triagem. Um interrogatório sumário, uma medida de tensão, nenhuma observação. Regresso à sala de espera. Chamam-nos de novo passados quatro minutos. Uma hora e 40 minutos depois de ter visto escrito preto no branco que na Urgência de Santa Maria ninguém espera sequer um minuto para ser atendido, vemos à nossa frente o primeiro médico.

Interrogatório, exame, a papeleta começa a encher-se de pedidos de exames, de análises, de notas. Do médico passamos para uma sala de tratamentos. Às 14h00 o meu familiar é enviado para o Serviço de Observação, onde já não o posso acompanhar. Dizem-me para esperar no corredor, pois um médico virá falar comigo, para me pedir pormenores da história clínica. Espero meia hora, uma hora, duas horas. Ando de um lado para o outro frente ao guichet da enfermeira para que veja que estou por ali, de vez em quando pergunto quando poderei falar ao médico, peço informações. A dada altura a enfermeira, sempre delicada, explica-me que é mais urgente tratar os doentes que falar aos familiares. Claro que concordo, mas os dados da história clínica não serão necessários?

Às 17h30 vejo passar, numa maca, a pessoa que acompanho. Dizem-me que vai fazer uma ecografia e uma TAC. Posso acompanhá-la se quiser. Deixam-nos na sala de espera da Imagiologia. Um pouco depois das 19h00 faz a ecografia. Às 19h13 vai fazer a TAC.

Estamos no hospital há sete horas e meia mas a tabela afixada na urgência diz que o nosso tempo de espera é zero minutos. Nunca saberei quanto tempo demoraria todo o processo até ao diagnóstico porque a minha mãe morreu na mesa da TAC durante o exame.

Thursday, November 06, 2003

Pobre Ribeiro Cristovão

Maria Elisa finalmente decidiu-se e pôs-se a andar - passo a expressão.

Recordemos. Logo após a eleição, a 17 de Março de 2002, estalou-lhe o verniz e entrou em polémicas com a Comissão Parlamentar de Ética, por esta não lhe permitir acumular a função de jornalista na RTP com o cargo de deputada. As regras são claras, só tem que as aceitar.

Mas não aceitou, e em 29 de Julho deste ano, ou seja 16 meses depois de ter sido eleita, Maria Elisa volta à carga. Simula doença, suspende mandato e no mesmo dia entra novamente em funções na RTP. Cura milagrosa, certamente. Santa Marta tudo cura, principalmente febre (de protagonismo).

Mas como os amigos são para as ocasiões, num deslumbrante golpe de rins, Maria Elisa deixa de ser putativa jornalista da RTP, e vê-se nomeada (pelo inefável Martins da Cruz) de "conselheira cultural". Repare-se que não sendo licenciada e não podendo por lei ser nomeada adida cultural, o governo decide então mandá-la "para Londres exercer funções de conselheira cultural, indicando o futuro despacho de nomeação que será conselheira de imprensa para respeitar os requisitos da lei " (como disse, e bem, o porta-voz do ex-ministro Martins da Cruz). O despacho fez o favor de a despachar para longe da ribalta.

Mas finalmente, hoje, lá se decidiu e trocou a suspensão pela renúncia. Gesto bonito, até sublime, como fez notar de imediato o grupo parlamentar do PSD. Deixa saudades no hemiciclo. Todos nós nos lembramos das suas brilhantes intervenções.

Mas agora, quem mete mesmo dó é António Ribeiro Cristovão. Um pobre diabo, que apareceu há tempos a lamentar-se na televisão do facto de agora ser deputado. Que nunca lhe tinha ocorrido ser eleito, que não faz a mínima ideia do que é ser deputado e que não sabe como há-de descalçar esta bota. Então pergunto: Oh António, explique-nos lá porque raio subscreveu a lista de candidatos do PSD?! Parecia simples, não parecia? Bastou uma assinatura, uma fotocópia do BI e uns eventuais quinze minutos de gritaria por comício e tinha direito a cinco minutos na televisão, o que é sempre bom. É a visibilidade, pois claro. O que nós fazemos para que notem em nós. Pois agora, agora tem de se manter calado, duas vezes por semana, na última fila de preferência, que é para não se notar que o amigo não tem nada para dizer. "Desvisibilize-se", ou usando outro vocábulo, este existente, desapareça! Desapareça você, a Maria Elisa e os outros todos, que parecendo que querem ser deputados na realidade não querem.


29 de julho, Dia de SANTA MARTA(Séc.I):
Personagem dos Evangelhos, irmã de Lázaro e Maria(Lc.10,38-42). Hospedeira de Jesus em Betânia. Segundo a lenda, após a ascensão de Jesus ao céu, Marta viajou para Marselhas num barco sem velas e sem leme. Viveu na França onde venceu um dragão em Tarascon, jogando nele água benta. Curou Clovis, o rei dos francos. Padroeira das donas-de-casa. Os gatos eram consagrados a ela, bichos de cozinha e telhado. Intercede por quem tem febre.

Que fina que é a nobreza

Joder! Joder! Joder!

Comentário do avô (taxista de profissão) de Letizia Ortiz Rocasolano, ao saber do noivado da neta com Felipe, Príncipe das Astúrias e herdeiro do trono espanhol.

Volta Monteiro, Estás Perdoado

As andorinhas não costumam arribar por estas alturas do ano.
Muito menos o fazem por Famalicão.


Título e citação de Luís Costa, in Público 06/11/2003
Referindo-se ao comício em Famalicão do PND, cujo símbolo é uma andorinha.