Saturday, February 14, 2004

Cannabis


Photo by MG Imaging,
in HIGH TIMES, Fevereiro 2004


O parlamento vai muito provavelmente chumbar a proposta de lei do Bloco de Esquerda sobre o uso terapêutico da Cannabis.

A maioria vai assim impedir o acesso de milhares de pessoas com doenças terminais, ou crónicas, a uma substância que poderá diminuir o seu sofrimento. São muitos os estudos que referem as virtudes desta droga na diminuição dos enjoos e aumento de apetite para pessoas a fazerem quimioterapia, ou na melhoria de qualidade de vida das pessoas com glaucoma, entre outras. Mais uma vez os altivos deputados decidem sobre aquilo que não compreendem, ou não querem compreender.

Primeiro, pensava que em Portugal existia uma instituição que decidia sobre as qualidades e perigosidade de substâncias para uso medicinal, o Infarmed. Segundo, como se pode negar o acesso do quer que seja a um doente terminal? É como negar batatas fritas a um condenado à morte, com o argumento que as gorduras saturadas fazem mal à saúde!

Na audição parlamentar foram apresentadas as conclusões do relatório da subcomissão de saúde e toxicodependência, orgão constituído apenas por deputados. Nesse relatório diz-se:

"afigura pouco cautelosa a introdução desta prescrição médica de "cannabis" para cuidados paliativos nos casos de doença crónica e doença terminal"

Pouco cautelosa?! Porquê? Podem morrer?

Entre os defensores deste relatório estavam o deputado Miguel Coleta, do CDS-PP, membro da dita subcomissão e farmacêutico; Fernando Negrão, presidente do Instituto da Droga e da Toxicodependência e ex-director da Polícia Judiciária; o médico Manuel Pinto Coelho, que chula as familias dos toxicodependentes nas suas clínicas há 20 anos e João Oliveira, director clínico do Instituto Português de Oncologia de Lisboa e que diz que é dispensável, pois temos Marinol marado (um composto quimico semelhante ao THC, princípio activo da cannabis), mas que não surgiu ainda a necessidade de o comercializar em Portugal.

Claro que eles acham que o Marinol é a solução. Enquanto ouver pacientes (e estado para comparticipar) dispostos a comprar frascos com 60 comprimidos de 10 miligramas a 700€ (sim, 140 contos!), para quê legalizar o acesso a algo que se pode plantar gratuitamente em casa?

Mas o que mais me intriga é o seguinte: onde estão os doentes terminais e crónicos? Não têm opinião?! Ou são todos membros do Bloco de Esquerda? Será afinal o BE o porta-voz oficial dos enfermos?

Há coisas que nuncam mudam. O Merdas, no entanto, vai tentar hoje deixar um legado aos pertinazes deputados. Vai-lhes explicar o que significa paliativo. Outro dia lhes irá tentar ensinar o que significa caridade.

paliativo, do Lat. palliatu:

adj., que só tem eficácia momentânea ou incompleta; que apenas serve para paliar;
s. m., medicamento que não cura mas mitiga o sofrimento do doente;
fig., delonga que mantém uma expectativa; dissimulação; paliação.

1 comment:

Anonymous said...

é assim numa eleitocracia.